terça-feira, 28 de agosto de 2012

A Síndrome de Caim

PSICOLOGIA E PSICOPEDAGOGIA: CONTRADIÇÕES E APROXIMAÇÕES[1]

A Síndrome de Caim, a exemplo da reflexão bíblica, opõe dois irmãos; o Psicólogo e o Psicopedagogo, respectivamente, Caim e Abel. Na passagem bíblica alusiva ao Livro de Genesis do Antigo Testamento de origem hebraica, uma das possíveis interpretações é a de que Caim matou Abel por inveja, ou seja, por entender que Abel ocupava um espaço desejado por Caim.

No entanto, entende-se que os irmãos por terem a mesma gênese deveriam socializar os sucessos e os fracassos naquele contexto, ou seja, no Paraíso recém-criado. Não se concebe que sentimentos tão diferentes do amor, da fraternidade ou da solidariedade pudessem nortear as relações entre duas pessoas tão próximas.

Assim podemos apresentar a relação conflituosa entre a Psicologia e a Psicopedagogia; irmãs em sua gênese e opostas em relação as suas atribuições.

Para os psicólogos, a psicopedagogia, tipificada academicamente como “especialização”, não pode ser considerada uma profissão e, portanto, não deveria atuar na solução e na compreensão dos problemas alusivos ao processo ensino-aprendizagem.

Porém, não é o psicólogo que está presente, pelo menos fisicamente na determinante maioria das instituições de ensino, mantendo uma relação direta com os alunos, os quais, no limite, seriam os mais beneficiados com sugestões, soluções ou discussões que pudessem (ou podem) melhorar o processo ensino-aprendizagem.

O psicopedagogo, por sua vez, está mais presente, por vezes alocado na própria escola, inserido no cotidiano dos alunos, coordenadores, gestores e professores possibilitando, assim, um acesso mais imediato em relação ao psicólogo.

Assim, neste primeiro momento dessa reflexão, a questão da Síndrome de Caim se apresenta como resultado de uma disputa por mercado, ou melhor, por uma reserva de mercado, já que o psicólogo e o psicopedagogo, ambos agora entendidos como categorias profissionais, colhem seus rendimentos a partir de consultas em comum. Desta forma, a economia dá conta de explicar a indisposição nessa relação conflituosa.

Porém, essa reflexão não pode permear apenas o universo da economia. É preciso lançar mão de algumas outras situações em que esses “irmãos” se distanciam. Assim, dentre essas situações, podemos apontar a vaidade, os esvaziamentos teóricos, tais como as generalizações e os oportunismos, e os objetos de pesquisas que tanto a Psicologia como a Psicopedagogia se propõe a estudar e pesquisar.

Para compreender e aprofundar essa reflexão, duas outras manifestações tem suas significâncias e relevâncias; a política e a infraestrutura educacional. Porém, antes de prosseguir, vale considerar e esclarecer que o entendimento aqui dado por infraestrutura educacional não está apenas na compreensão e visualização das instalações físicas e dos insumos que fomentam a realização de aulas em escolas, mas sim na compreensão de todo o conjunto de intenções, de interesses, de práticas e também de leis que norteiam as rotinas escolares.

O exercício da profissão do psicopedagogo pode não ser, em grande parte, reconhecida pelos psicólogos, porém é reconhecida no cotidiano da Educação e, também, pela sociedade em geral, a qual entende esse profissional como parte integrante de muitas escolas, orientando pais, professores, coordenador, gestores e alunos.

O direto ao exercício da profissão é garantido por Lei e, desta forma, reforça a condição de liberdade presente em nossa Constituição e, portanto, na vontade do povo. Mais especificamente, se pretende dizer aqui nessa reflexão, que o exercício da profissão, seja do psicólogo ou do psicopedagogo, não deveria ser entendido pelos profissionais como uma barreira, como uma em detrimento da outra, mas sim como parte dos interesses que tem por finalidades promover a qualidade no processo ensino-aprendizagem, orientar gestores para que possam fomentar suas rotinas administrativas e também pedagógicas, de modo a torná-las claras e objetivas para a comunidade escolar, e agir no sentido de minimizar os problemas que existem entre os alunos e o contexto em que se insere o processo ensino-aprendizagem.

Os entraves que dificultam a aprendizagem não se iniciam e nem se encerram na escola. Se o psicólogo ou o psicopedagogo estiverem nas escolas com a pretensão de isolá-las dos contextos sociais, econômico e, especialmente, político, oferecendo soluções imediatas para todas as perturbações que surgem no processo ensino-aprendizagem, então não estão ali de forma a exercerem uma profissão, mas sim exercerem apenas uma atividade sem frutos ou mesmo sem relação pedagógica. Em geral, se agirem assim, temos então a possibilidade de imaginar que os mesmos estão, portanto, a serviço de outros interesses e intenções que não são aqueles que suas respectivas ciências defendem e se debruçam ao longo do tempo. Exemplificando tal situação, não é raro escolas particulares usarem a figura do psicopedagogo ou do psicólogo como estratégia de concorrência, ou seja, para demonstrarem que ali a Educação é mais valorizada do que em outra escola que atue no mesmo espaço. Neste caso específico, o psicopedagogo e o psicólogo estariam abrindo mão de suas profissões e, em minha opinião, não realizariam nas escolas benefícios no sentido de fomentar a qualidade dos processos ensino-aprendizagem.

A Educação dentro da concepção proposta por J. J. Rousseau no século XVIII em relação à teoria do Contrato Social é um dever do Estado e está, pelo menos nas sociedades idealizadas e organizadas a partir do Iluminismo, a serviço da manutenção da ordem vigente. Ainda sim, é importante salientar que é sabido aqui nessa reflexão, que ao contrário do que vemos a Educação, teoricamente, deve servir para ideias mais nobres, tais como a transmissão de experiências de uma geração para outra, cujo objetivo é promover o conhecimento e o desenvolvimento humano em todas as suas possibilidades.

Na proposta do Contrato Social de Rousseau observamos que os indivíduos se dedicam a viver dentro das normas sociais, legais, éticas e culturais de um determinado espaço geográfico e, também, se dispõem a delegar poderes que, constituídos, determinam as regras a serem seguidas por todos. Essa relação, no limite, configura o sentido de Estado e de cidadania.

Tendo como base essa explanação, a Educação enquanto instituição organizada e regulamentada pelo Estado, tornando-se assim formal, ganha em dimensão e importância. Em dimensão porque pode estar nos lugares mais remotos de um território, já que é subsidiada pelos impostos. Assim, enquanto espaço físico, a escola se torna algo gigantesco. Em importância, por sua vez, a escola, por trazer em suas propostas o viés da presença do Estado e a maneira como esse último se relaciona com as questões sociais, acaba por servir como um instrumento de construção ideológica, atendendo esse ou aquele interesse na medida em que se dão os ditames político-econômicos.

Sabendo dessa relação intrínseca entre Estado, Educação e sociedade, os psicopedagogos e os psicólogos deveriam, antes de tudo, ver, compreender e praticar a Educação como o evento social capaz de transformar a vida humana e gerar qualidade de vida, seja para o presente ou para o futuro através do desenvolvimento da cidadania e do conhecimento.

Assim, de posse desse entendimento libertador, transformador e revolucionário, da Educação, os psicólogos e os psicopedagogos poderiam se entender como nexos constitutivos das soluções capazes de contribuir positivamente com os processos ensino-aprendizagem. Porém, são poucas as escolas e os profissionais que veem a Educação como evento social transformador. Em geral, reproduzem as visões que o Estado tem das questões sociais e, assim, apenas acumulam mazelas que jamais serão resolvidas apenas dentro das escolas. Sem uma preocupação mais relevante e sem uma visão ampla dos problemas relacionados à Educação, os conflitos entre psicólogos e psicopedagogos são meras intrigas familiares.


[1] Autoria da reflexão de Luiz Carlos Rodrigues, mestrando de Psicologia Educacional do Centro Universitário UNIFIEO, apresentado à disciplina de Fundamentos Históricos da Psicopedagogia, ministrada pela Drª Marcia Siqueira Andrade.

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Desafios do Ensino Técnico no Brasil


Ederson Granetto entrevista Maria Laura Puglisi Barbosa Franco, professora do Centro Universitário FIEO sobre como seria um curso tecnológico "modelo" para o Ensino Médio, uma vez que o governo sinaliza com a intenção de aumentar os investimentos para esses cursos.