por Eliane Ferreira dos Santos
A Educação, como posta hoje, especialmente em maior grau
no ensino público, assume em boa parte uma estrutura que não contribui com a
crítica aos modelos econômicos vigentes ou mesmo com a construção da cidadania,
o que, no limite, é o objetivo primeiro da Educação/Escola dentro de um
universo democrático.
A falta de capacidade das escolas em competir com a mídia
de massa quando se trata de conscientizar o indivíduo, faz com que tenhamos
comportamentos muito mais próximos da ideia de construção de um indivíduo
adequado ao consumismo do que da ideia de sujeitos transformadores da realidade.
Diante dessa falha, ou desse distanciamento de propostos e
objetivos, os fracassos escolares recaem, em muitas vezes, na figura do
professor, determinando uma perspectiva individualizada do problema.
No Brasil, desde o Descobrimento, a prática de
personificar a culpa de fracassos políticos, econômicos e sociais se faz
presente em todo momento. A Coroa portuguesa tendia a culpar os índios pela
promiscuidade que se encontrava a Colônia, mais tarde, a mesma Coroa portuguesa
insistiu por séculos na ideia de que o escravo africano era o responsável pelas
quedas de produtividade nas lavouras, primeiro de cana e mais tarde de café. Já
no século XIX, a Monarquia brasileira, filha da Cora portuguesa, sustentou de
forma maquiavélica a necessidade de promover a imigração europeia no fato de que
o negro cativo não era “hábil” na lida agroexportadora. Mais adiante, já no
período Republicano, os operários eram os culpados pela má organização da
industrial nacional, pois estavam, segundo o Estado, “mais preocupados com os
sindicatos do que com as máquinas”. Nos períodos mais próximos do nosso
cotidiano, vimos recaírem culpas sobre a esquerda e, agora, parece que o alvo
escolhido para atribuir a falência da Educação no Brasil é o professor.
Essa tendência de personificar culpa vem de cima para
baixo, ou seja, vem do governo para os governados e, esses últimos, tendem a
aceitá-la sem questionamentos e sem análises mais coerentes. O Estado
brasileiro sempre foi tão convicto de que as pessoas são culpadas por tudo, que
projetou o Exército para ter o povo como inimigo. Tirando a Guerra da Tríplice
Fronteira, na segunda metade do século XIX e a Segunda Guerra Mundial em meados
do século XX, o Exército sempre atuou contra o povo, contendo-o, torturando-o,
censurando-o, vigiando-o. Ainda sim, nos dois momentos citados, o Exército não
esteve a serviço da população nas empreitadas militares, mas sim na defesa de
interesses político-econômicos de outras nações; nos casos citados, a
Inglaterra e os EUA respectivamente.
Conclui-se, portanto, que o inimigo do Exército Brasileiro
é o povo e, entendo que o Exército é parte do Governo, logo é o Governo que vê
o povo como ameaça aos seus interesses, práticas e poderes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário