quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Nossa Senhora Aparecida e a Identidade nacional do Brasil

Juliana Beatriz Almeida de Souza

1717. Outubro. Guaratinguetá. Três pescadores – João Alves, Domingos Garcia e Felipe Pedroso – jogavam insistentemente suas redes no rio Paraíba. A época não estava boa para a pesca. Havia horas eles tinham posto suas canoas naquelas águas e, até aquele momento, nenhum resultado. Não podiam, entretanto, desistir.

Tinham sido convocados para que pegassem muitos peixes. O Governador da Capitania de Minas Gerais e São Paulo – Dom Pedro de Almeida Portugal -, em viagem para o interior da Capitania, ia passar por aquela vila. Era preciso bem recebê-lo.

Mais uma vez, João Alves lançou sua rede. Ao puxá-la, no fundo da malha viram um pequeno objeto de cor escura. Identificaram-no como sendo a imagem de Nossa Senhora da Conceição, sem a cabeça. João Alves atirou de novo a rede. Veio, então, a cabeça da imagem. Os três guardaram-na na canoa, voltando-se, em seguida, para a pesca. Suas redes vieram, então, à tona abarrotadas de peixes, enchendo os barcos em pouco tempo.
Caía a noite no Vale.

Essa breve narrativa inicial, com proposital ausência de detalhes, procura mostrar como se deu o encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida. As graduações e matizes que se podem imprimir a esse relato possibilitam conotações antes não imagináveis.

Encontrada em 1717, a imagem de Nossa Senhora teve seu culto oficializado em 1743. Nos primeiros anos a imagem ficou com Felipe Pedroso – um dos três pescadores –, que a conservou em sua casa, onde ela foi venerada pela família e seus vizinhos. Após sua morte, seu filho – Atanásio Pedroso – construiu-lhe um oratório e um altar. E a devoção foi crescendo.

Já na segunda metade do século XVIII, capelas dedicadas a Nossa Senhora Aparecida foram construídas em outros lugares, mesmo fora do Vale do Paraíba, para onde sua “fama” fora levada por tropeiros, mineradores, sertanistas.

O culto à Senhora de Aparecida, então, começou entre os colonos, os moradores de Porto de Itaguaçu, no Vale do Paraíba. Primeiro, as famílias – poucas, ainda – reuniam-se todos os sábados para diante da imagem rezar o terço e cantar em seu louvor. Depois, eram os que passavam pelo caminho e vinham agradecer-lhe ou pedir sua intercessão.

No século XIX, as peregrinações e romarias à capela, registradas pelos viajantes do período – Spix e Von Martius, em 1817 1, por exemplo –, significaram a expansão do culto, que rompeu os limites da Província de São Paulo.

E a capela já recebia visitas “ilustres” àquela época, como a da Princesa Isabel e do Conde D’Eu quando da festa da Imaculada Conceição, em 8 de dezembro de 1868. Consta, inclusive, que na ocasião a princesa doou a Nossa Senhora uma coroa de ouro que é até hoje usada na imagem.

Com o início da República, veio o fim do Padroado, a laicização do Estado e a romanização da Igreja no Brasil. Mas essa expressão da religiosidade popular resistiu e cresceu, parecendo não ter sofrido os cerceamentos que tiveram outras festas populares, como a de Nossa Senhora da Penha ou do Divino, ambas no Rio de Janeiro. O final do século XIX significou para a Igreja o seu desenvolvimento institucional, com o fortalecimento das suas estruturas internas.

Novas dioceses foram criadas, aumentou o controle episcopal sobre o clero, as ordens religiosas cresceram e veio um novo fluxo de clero estrangeiro. Foi nessa época – 1894 – que chegaram ao Brasil os primeiros missionários redentoristas. Vindos da Baviera, eles assumiram, em janeiro de 1895, a direção do Santuário de Aparecida, procurando dar-lhe uma vida religiosa dentro dos moldes tridentinos.

O padre Júlio Brustoloni 2 aponta como primeira das causas para a expansão do culto a ressonância da imagem na vida cotidiana dos fiéis, ou melhor, no sentimento religioso popular. De um “altar de paus” a santuário nacional. De povoado ao redor da capela à cidade. De culto popular ao padroado do País. São mais de dois séculos de história devocional. Uma devoção que se expandiu e ganhou proporções deixando-nos a pergunta: por quê? Em uma religião de tantos santos, em meio a um povo de tantos mártires, por que Nossa Senhora Aparecida foi a escolhida para ser a Padroeira do Brasil?

Um caminho possível para desvendarmos como e por que essa devoção foi tomando tal dimensão, ao longo dos anos, é procurar perceber, nas descrições da “aparição”, que simbolismos e que significados lhe foram atribuídos.

Ao analisarmos os relatos que recontam o encontro da imagem, pelo menos dois traços comuns podem ser notados. O primeiro deles é a ênfase dada à “maternidade” de Maria, ou melhor, à virgem de Aparecida. Ela é mãe do povo brasileiro. Mãe dos pobres, inclusive, ou, talvez, em especial. A metáfora Maria/Mãe está presente tanto na devoção popular quanto na doutrina oficial da Igreja, ainda que em nuances diferentes.

Para a doutrina oficial, Maria é a Mãe carinhosa, mas Cristo, como filho de Deus, está em uma posição superior à sua. Entretanto, dentro da religiosidade popular, Maria, Mãe de uma família de santos e, mais do que isso, do povo, encontra-se em uma posição de destaque. Maria, assim, cumpre, como os santos, papel de protetora.

Dela se esperam “milagres” que, na realidade, correspondem ao restabelecimento da ordem perturbada. Em troca dos pedidos, “promessas”, e a reafirmação da fidelidade eterna.

O segundo traço comum, em geral, nas narrativas da “aparição” é a tentativa de se encontrar na situação colonial o “Brasil” contemporâneo, explicando o passado pelo que será o seu futuro. Os pescadores – homens livres e pobres, mestiços – são uma espécie de “embrião” do ser “brasileiro”.

Não raros nesses relatos são apontados indícios do sentimento de nacionalidade, de brasilidade, mesmo, no esforço de imprimir à devoção um caráter nacional desde o começo.

A história de Nossa Senhora Aparecida é, de fato, muito rica. Em setembro de 1929, logo após o Congresso Mariano, no qual se comemorou o Jubileu de Prata da Coroação da Virgem, o episcopado brasileiro pediu ao Papa que ela fosse oficialmente reconhecida Padroeira do Brasil. A 16 de julho de 1930, Pio XI declarava aceito o pedido.

Os anos 30 para a Igreja, foram anos em que, defendendo a hierarquia e a ordem, ela buscou sua consolidação interna e a reafirmação da sua imagem na sociedade brasileira. Ao mesmo tempo, o Estado procurou instaurar uma “nova ordem” movida pelo trabalho e baseada na conservação da família tradicional, a fim de conseguir o consenso e a conciliação das forças sociais e políticas.

A religião católica podia bem ter sido um dos elos capazes de unir a todos dentro do processo de formação do “homem novo” 3 tão caro à legitimação da ideologia política do Estado.

A escolha de Nossa Senhora Aparecida, talvez, então, faça parte da tentativa de se criar uma identidade nacional que não passava só pela condição de trabalhador mas também pela de ser católico.

A festa de proclamação do Padroado, em 31 de maio de 1931, no Rio de Janeiro, então capital federal é, nesse sentido, emblemática. A imagem deixou seu nicho e fez sua peregrinação de Aparecida à capital. Antes de ser colocada no altar, a virgem foi apresentada ao presidente Getúlio Vargas, que junto com sua família lhe foi prestar homenagem. Dom Leme, que teria sido o principal articulador do movimento que encaminhou o pedido a Roma, deu início ao ato na presença de devotos e representantes das autoridades civis, militares e eclesiásticas.

Nossa Senhora Aparecida parece ter mesmo a favor de si muitos dados para congregar o “Brasil” em torno de sua devoção. Sua imagem falava bem aos mais desfavorecidos e podia ser, então, de todos os brasileiros. Encontrada por pescadores, trabalhadores simples, seu primeiro “templo” foi a casa de uma família.

O local da “aparição” – São Paulo – fica entre o caminho do mar – Rio de Janeiro – e o interior – Minas Gerais. E basta olhá-la para descobrir mais um elemento profundamente significativo: a sua cor negra. Faz-nos pensar porque uma religião “branca” tenha escolhido uma virgem negra 4 para padroeira de um país que se diz branco.
Hoje, ainda se pode questionar quantos conhecem de fato a história da Virgem de Aparecida.

Pode-se mesmo dizer que o povo e o clero nunca rezaram para a mesma imagem 5. Mas não se pode desprezar a importância de se considerar a sua escolha para uma melhor compreensão do período e da sociedade brasileira, marcada pela presença da Igreja Católica desde a sua colonização. Se, como diz Robert Darnton 6, cabe ao historiador investigar como as pessoas “comuns” entendem e pensam o mundo, assim como expressam a realidade em seu comportamento, o entendimento da estrutura das crenças no espaço do cotidiano pode ser relacionado com as conjunturas históricas mais amplas.

A religiosidade torna-se uma estratégia de vida, à medida que faz parte das diretrizes de organização do cotidiano dos populares, na busca de uma identidade própria.

 

NOTAS

1 - Spix & Von Martius. Viagem pelo Brasil (1817), 2ª ed., SP, Melhoramentos, s/d., pp. 129-131.

2 - Brustoloni, J. A Senhora da Conceição Aparecida. 6ª ed., SP, Editora Santuário, 1986.

3 - Gomes, Ângela M. de Castro. A invenção do trabalhismo. SP/RJ, Vértice/IUPERJ, 1988.

4 - A imagem, feita de terracota, deve sua cor, provavelmente, ao fato de ter ficado submersa no lodo das águas do rio Paraíba e ter sido exposta à fumaça das velas quando ainda se encontrava na casa dos pescadores e no oratório do Porto de Itaguaçu. Nas descrições, em geral, faz-se referência à cor da imagem que aparece em oposição às suas outras características. Bom exemplo disso está na Crônica Anual dos Padres Jesuítas de Roma, em 1750, que diz: "A imagem é de cor escura, mas afamada pelos muitos milagres operados".

5 - Fernandes, Rubem César. "Aparecida: nossa rainha, senhora e mãe, sarava!" in: Sachs, V. (org.) Brasil & Estados Unidos: religião e identidade nacional. RJ, Graal, 1988, pp. 85-111.

6 - Darnton, R. O Grande Massacre dos Gatos. RJ, Graal, 1986.

 

Sobre a autora:

Juliana Beatriz Almeida de Souza Recebeu o prêmio do concurso de Iniciação Científica da Universidade Federal Fluminense pela pesquisa sobre a devoção a Nossa Senhora Aparecida.

Publicado no D.O. Leitura – Publicação Cultural da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo – em dezembro de 1993.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Referências: apud, et al., et seq., idem, id., op. cit., passim etc

 

17 de dezembro de 2012

por Luiz Carlos Rodrigues

Para os que já leram algum artigo científico certamente já repararam algumas abreviações, a princípio sem significado, nas notas de rodapé e nas referências bibliográficas. Essas abreviações possuem sim um significado e devem ser utilizadas para esclarecer a nota. O problema é que a maioria (incluindo eu antes dessa pesquisa) não sabe o significado desses termos e, na maioria das vezes, simplesmente pula para a palavra seguinte.

O objetivo deste post é listar esses termos, qual o significado de cada um e principalmente dar exemplos de suas utilizações. Seguem:


apud

- (do latim junto a; em) citado por, conforme, segundo – Indica a fonte de uma citação indireta.

Para referenciar um autor (a cuja obra o pesquisador NÃO teve acesso) que está indicado num livro ao qual o pesquisador TEVE acesso, usa-se apud. Ex.:

(ANDERSON, 1981 apud ARÉVALO, 1997, p. 73)

Estudos de Zapeda (apud MELO, 1995, p. 5) mostram [...]

BUTERA apud MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: direito das sucessões. 30. ed. São Paulo: Saraiva, 1995, v. 6, p. 80.
OBS: A expressão apud é a única que pode ser usada em notas e no texto. As demais, somente em notas.


Cf.

– confira, confronte, compare

Cf. GOMES, 2001


et al. – et alii (masculino),  ou et aliae (feminino), et alia (neutro)

e outros. É comumente usado quando você não quer nomear todas as pessoas ou coisas numa lista. Ex.:

Eichelberger JP, Schwar KQ Black ER, et al. Predictive value of dobutamine echocardiography just before noncardiac vascular surgery. Am J Cardiol 1993;73:602-7.

William MJ, Odabashian J, Lauer MS, et al. Prognostic value of dobutamine echocrdiography in patients with left ventricular dysfunction. J Am Coll Cardioal 1996;27:132-9.


ibidem ou ibid.

– Para fazer referência, subseqüente, de um mesmo autor, em página diferente, de uma mesma obra. Ex.:

GONÇALVES, 2000, p. 61

Ibid., p. 203

MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: direito das sucessões. 30. ed. São Paulo: Saraiva, 1995, v. 6, p. 15.

ibidem, p. 25.


idem ou id.

– Para fazer referência, subseqüente, de um mesmo autor. Ex.:

LAMPRECHT, 1962, p. 20

Id., 1964, p. 35

MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: direito das sucessões. 30. ed. São Paulo: Saraiva,  1995, v. 6, p. 15.

idem, p. 42


loco citato ou loc. cit.

no trecho citado – Remissão a um trecho citado anteriormente

PAPALEO, Celso Cezar. Aborto e contracepção: atualidade e complexidade da questão. Rio de Janeiro: Renovar, 1993, p. 278.

PAPALEO, Celso Cezar, op. cit., loc. cit.

SILVA; SOUZA; SANTOS, 1995, p. 99-115

SILVA; SOUZA; SANTOS, 1995, loc. cit.


opus citatum, opere citato ou op. cit.

obra citada

GONÇALVES, 2000, p. 50

LAMPRECHT, 1962, p. 20

GONÇALVES, op. cit., p. 216


passim

por aqui e ali, em diversas passagens – Indica referência a vários trechos da obra

GONÇALVES, 2000, passim

MOTA, Sílvia. Testemunhas de Jeová e as transfusões de sangue: tradução ético-jurídica. In: GUERRA, Arthur Magno Silva e (Coord.). Biodireito e bioética: uma introdução crítica. Rio de Janeiro: América Jurídica, 2005, passim.


sequentia ou et seq.

seguinte ou que segue – Nos exemplos abaixo, da página indicada em diante.

PINTO, 1956, p. 31 et seq.

MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: direito das sucessões. 30. ed. São Paulo: Saraiva, 1995, v. 6, p. 15-17.

MONTEIRO, Washington de Barros, op. cit., p. 36 et seq.


É isso. Adicione em seus favoritos para quando precisar fazer uma monografia ou uma outra obra científica.

Referências

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Bibliometria e difusão de conhecimentos na Psicopedagogia: contexto recente, tendências e relevâncias

Bibliometrics and diffusion of knowledge in
Psysho-pedagogy: recente context, trends and relevance

Eliane Ferreira dos Santos (UNIFIEO/SP) efseliane@yahoo.com.br
Luiz Carlos Rodrigues (UNIFIEO/SP) lucarodrigues@hotmail.com
Michele Souza de Barros Gavasso (UNIFIEO/SP) msb.psico@gmail.com

 

Resumo

A Bibliometria se destaca hoje diante do advento dos meios eletrônicos e da constante evolução tecnológica à disposição da difusão de informações. A partir daí, muitos pesquisadores lançam mão dessa ferramenta para aprofundamentos em suas áreas e para construírem novos conhecimentos. Neste contexto, a Psicopedagogia não se apresenta como exceção, contribuindo com temas, métodos e problematizações disponíveis em artigos científicos e demais publicações acadêmicas, as quais realizam o compromisso da Bibliometria com a difusão do conhecimento. Nessa pesquisa, a partir de um recorte cronológico (1990 a 2011), buscou-se levantar as produções científicas da área de Psicopedagogia, categorizando-os a partir do ano de publicação, do meio de publicação, da área, do sexo do autor, bem como sua titulação e instutuição a qual está vinvulado.
Palavras-chave: Psicopedagogia, Bibliometria, Produção Científica.

Abstract

The Bibliometrics stands out today with the advent of electronic media and constant technological evolution available to the dissemination of information. Since then, many researchers avail use of this tool for insights in their areas and to build new knowledge. In this context, the Psychopedagogy isn´t an exception, contributing with subject matter, methods and concerns found in scientific articles and other scholarly publications, which realize the Bibliometrics's commitment to the dissemination of knowledge. In this research, based on an outline chronology (1990-2011), sought to raise the scientific production in the area of Educational Psychology, categorizing them from the year of publication, the publication medium, area, sex of the author, as well as their titles and institution which is bound.
Keyworld: Psycopedagogy; Bibliometrics, Scientific Production.

Introdução

O objetivo desta pesquisa foi identificar e analisar parte da produção científica sobre psicopedagogia, publicada em periódicos indexados na base de dados da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS-PSI) no període de 1990 a 2011.
A reflexão acerca da produção científica de determinado campo de conhecimento, agurmenta Bufrem (2007), implica necessariamente na elaboração de categorizações que permitem a visualização e interpretação de tendências de pesquisas, motivações, métodos de análise de dados e perspectivas da área questionada.
Os artigos de revistas acadêmicas são lidos com muito mais freqüência que qualquer outro tipo de publicação, sejam revistas comerciais, livros, relatórios técnicos, etc. (KING & TENOPIR, 1998).
O levantamento das atividades de pesquisa científica, sejam elas de qualquer campo do conhecimento, impõe a criação de seleções criteriosas, já que existe um dinamismo na relação do homem com seu contexto, o que, por sua vez, implica em um contínuo crescimento de métodos e olhares sobre a realidade.
Claro está que, apesar do homem se relacionar muito rápido com a realidade e, mais ainda, de vivenciarmos um momento no qual as comunicações são marcadas pela eficiencia e praticidade, a crítica acadêmica, essencial para o desenvolvimento da produção científica, não caminha na mesma velocidade, ou ainda, não atende de imediato a necessidade humana de controlar e manipular os saberes disponíveis, já que o universo documental disponível é muito extenso. (FERREIRA, 2010).
A presente pesquisa buscou, além de apresentar a pridução científica delimitada acima, aprodundar o debate acerca das preocupações e dos temas que se apresentam diante da Psicopedagogia.
Método
Trata- se de pesquisa de caráter documental, na qual levanta- se a produção científica da área de Psicologia nacional e internacional referente a Psicopedagogia.
- Material
As publicações analisadas foram em periódicos nacionais, especializados em Psicologia, a saber: Boletim- Academia Paulista de Psicologia, Caderno de Psicopedagogia, Ciências e Cognição, Construção Psicopedagógica, Estilos da Clinica, Estudos de Psicologia- Campinas/SP, Estudos em Psicologia- Natal/RN, Interdisciplinária, Paidéia, Psicologia Argumento – PUC/ PR, Psicologia, Ciência e Profissão, Psicologia Educacional, Psicologia em Estudo, Psicologia Educacional e Escolar, Psicologia Reflexão e Crítica, Psicopedagogia, Revista da Associação Brasileira de Orientação Profissional, Revista Cubana de Psicologia, Revista Departamento de Psicologia UFF, Revista Psicologia: Pesquisa & Trânsito, Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, Revista Psicologia- Teoria e Prática, Revista Temas em Psicológicos.
- Procedimentos
A pesquisa foi desenvolvida eletronicamente, na UNIFIEO- Centro Universitário FIEO Osasco/SP, no segundo semestre do ano de 2012.
Como recorte cronológico, o levantamento das publicações iniciou-se a partir de 1990, com publicações não digitalizadas. Sequententemente ao ano de 1993, as publicações encontravam-se defidamente disponíveis em meios eletrônicos.
Como primeira publicação disposta para consulta pública em meios eletrônicos, a qual atendia as delimitações dessa pesquisa, temos: “Uso da Fantasia como instrumento na psicoterapia infantil”, com autoria de Jaide A. R Nalim, analisado pela Sociedade Brasileira de Psicologia, e publicado na Revista Temas da Psicologia v.01 n.02 Ribeirão Preto/SP, disponibilizado para consulta pela Pepsic- Periódicos Eletrônicos em Psicologia.
O acesso aos Periódicos, foi realizado eletronicamente através do laboratório de informática da UNIFIEO- Centro Universitário FIEO- Osasco/SP- Campus Vl Yara, com base no BVS- PSI. Para tanto, o levantamento teve como palavra chave “Psicopedagogia”. A partir do material encontrado, uma analise prévia dos artigos permitiu selecionar o documentos que trata- se de Psicopedagogia.
As publicações foram organizadas a partir de análises de frequência, levando em conta o ano de publicação, a revista na qual foi publicada, a área de publicação do artigo, o sexo do autor, bem como sua titulação. Além disso, levou-se em conta, também, a categorização da instituição de vinculo profissional do autor entre, sendo essa dividada pelo carater público ou particular. Ainda com relação à instituição que acolhe o vínculo profissional do autor, foi criada a categorização “outros” para aquelas instiuições que, por sua vez, não se enquadraram no carater público ou particular. Em geral, correspondem a consultórios, clínicas ou quaisquer instituições ou entidades que não sejam especificamente de área ligada ao ensino ou à Educação.
A elaboração de gráficos e planilhas com as vertentes estipuladas, como critério de analise de resultados, permitiu uma leitura ampla, o que possibilitou as argumentações quantitativas dos dados.
Resultados
De 1990 a 2011, foram encontrados 144 artigos como referencial a palavra Psicopedagogia, estando 143 ( 99%) em periódicos da Psicologia e 1 ( 1%) em periódicos de Neurociência.
Na Tabela 1, que mostra a distribuição de acordo com os periódicos selecionados, pode- se constatar que a área de Psicologia costuma realizar mais publicações de artigos científicos, que as Revistas ligadas a Neurociência. Embora o fazer Psicopedagógico venha se constituindo num crescendo, ampliando seu âmbito de ação de modelos de investigação, muito ainda há a se fazer no que se refere ao campo da investigação científica, para que se possa verdadeiramente fazer frente a demanda que a originou, (BOSSA, 2000).
Existe muita demanda de preocupações e temas para a Psicopedagogia, porém ainda segundo Bossa (2000), somente pesquisas realizadas no contexto acadêmico poderão resultar numa produção de conhecimento capaz de transformar tal realidade.
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Lançando o olhar para o que se refere ao ano de publicação e vinculo profissional do autor, constata- se que, na primeira década do século XI, publicou-se mais sobre a Psicopedagogia do que na última década do século XX.
Segundo Guimarães (CAPES 2011), entre 2005 e 2008, o ISI indexou e reindexou mais de 60 periódicos brasileiros. Só em 2008, o ISI incorporou mais de 1228 revistas de diferentes países. E ainda Guimarães (CAPES 2011), em 2009 este número aumentará, com a incorporação de mais 30 revistas brasileiras.
Na Tabela 2, que mostra a distribuição de artigos publicados por ano e tipo de vínculo profissional do autor, chega- se ao número de 6 ( 100 %) artigos publicados na última década do século XX, dos quais 2 (33%) autores dos artigos estavam vinculados profissionalmente a instituições públicas, 3 ( 67%) autores dos artigos vinculados profissionalmente a instituições particulares e finalmente 0 (0%) de autores estavam vinculados profissionalmente a outros tipos de instituições, tais como, consultórios particulares, clínica, instituições militares e financeiras.
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Na Tabela 3, chega- se ao resultado da pesquisa em relação ao Sexo e Titulação de autores (as). Sendo que publicações de autores (as) do sexo feminino/graduados (as) chegam ao montante de 30 (30%), Mestrados (as) chegam a 35 (35%) e Doutorados (as) a 34 (34%). Gerando um total de 99 mulheres autoras de artigos publicados.
E o realizando o cálculo de autorias masculinas, vemos que, existem 10 ( 48%) Graduados, 6 (29%) Mestrados e 5 (24%) Doutorados. Calculada a frequência absoluta na somatórios dos dois sexos, chegamos aos números de, 40 (33%) Graduados , 41 (34%) Mestres e 39 (33%) de Doutores. Chegando assim ao total de 120 (100%) autores com titulações divididas entre Graduados, Mestres e Doutores. Se o olhara for dirigido á tabela apenas para verificar a Frequência Absoluta, independente de sexo do autor, verifica- se que, os autores titulados Mestres estão em escala um pouco maior na frente de produção científica.
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Discussão
A partir dos resultados, evidencia-se a intensa presença da mulher como produtora de conhecimento na área de Psicopedagogia. Esse fato se justifica na História, já que é de longa data a participação da mulher na Educação no Brasil. Segundo Novais (1997), a princípio, ainda no Período Colonial, a participação da mulher na Educação se reservava ao lar, sendo ela responsável pela formação moral, religiosa e ética dos filhos dentro da cultura escravista predominante nesse período. Se considerarmos os limites da cultura brasileira, ainda incipiente, nos séculos XV, XVI e XVIII, concluiremos que a maior parte daqueles tantos outros que, de uma forma ou de outra, decidiriam os rumos político-econômicos e culturais do Brasil foram, no limite, educados e tiveram norteamentos éticos e morais transmitidos pelas mulheres.
Assim, não é de se espantar os números que mostram a presença mássica das mulheres nas produções acadêmica em áreas lidadas à Pedagogia, tornando raro, em muitas vezes, a presença masculina.
Com relação a coleta de dados e ao método baseado em categorizações, a Bibliometria se mostra como recurso altamente eficiente. Basicamente, a Bibliometria é uma área da ciência da informação que grosso modo "mede" a ciência; baseia-se no pressuposto da cumulatividade/dispersão da ciência, o que leva também a desdobramentos socioculturais, se pensarmos que a produção científica é sempre uma produção cultural e coletiva. (MOSTAFA & MÁXIMO, 2003).
As facilitações advindas das tecnologias disponíveis a favor da Bibliometria também são visiveis nas pesquisas, uma vez que podem proporcionar uma maior abrangência na exploração de todas as categorizações determinadas. Com vistas ao contexto tecnológico hoje à disposição dos pesquisadores, essencialmente depois do último quarto do século XX, a bibliometria se destaca como ferramenta indispensável no processo de construção do conhecimento e de sua difusão.
Diante da grande diversidade de possibilidades tecnológicas disponíveis, a Bibliometria encontrou na última década outras denominações, tais como infometria, informetria, cientometria e webometria, entre outros presentes na relação paradigmática que os abrange, representam práticas de mensuração da informação da ciência, ou de suas representações em modalidade convencional ou na Web, definindo com mais especificidade o universo quantificável a que se referem. (BUFREM, 2007).
Considerações Finais
O homem, faz de sua própria atividade vital o objeto de sua vontade e de sua consciência (MARX, 1998, p. 157). Dispondo dessa atividade vital consciente, ao produzir livremente, Brufrem (1996) entende que o homem se defronta com sua própria produção, a qual analisa e critica. Assim surgue a constante necssidade de informações demandada por pesquisadores que se justifica, em boa parte, a grande quantidade de análises de revistas científicas. Tal necessidade encontra nos meios eletrônicos a saciedade, já que dificilmente um artigo científico se tonará indisponível no universo virtual da “Ampla Rede Mundial” (World Wide Web / “www”).
Corroborando com o dinamismo proposto pelos artigos científicos através da praticidade trazida pelos meios eletrônicos, King & Tenopir (1998) afirmam que os cientistas se mantém atualizados, em grande parte, devido às leituras realizadas em revistas científicas.
Concordamos, portanto, que a Bibliometria proporciona em grande escala o cumprimento do objetivo mais essencial da produção científica, que é, no limite, a sua difusão. Indubitavelmente, não existe conhecimento único, desconecto de outros conhecimentos. Assim, Spinak (1996) apregoando Rousseau, considerou que devemos consolidar a idéia de que todas estas especialidades encontram sua ligação a partir da sua origem comum. Desta forma, concordamos, portanto, que a bibliometria cumpre esse princípio. Neste sentido, em favor das tecnologias e do dinamismo proposto pelo contexto em que se encontra hoje a Bibliometria, King & Tenopir (1998) afirmam que os cientistas se mantém atualizados, em grande parte, devido às leituras realizadas em revistas científicas disponíveis em meios eletrônicos.
Por fim, entendemos que a produção científica, decorrente das pesquisas desenvolvidas no meio acadêmico e, posteriormente devidamente publicadas e difundidas, oferece mais do que apenas indicadores de avaliação institucional. Os novos conhecimentos gerados nessas pesquisas têm repercussões não apenas na comunidade científica nacional, mas servem de medida para o avanço científico do país em relação à comunidade internacional.

 

Referência Bibliográfica

BOSSA, Nadia A. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.
BUFREM, Leilah Santiago. Linhas e tendências metodológicas na produção acadêmica discente do mestrado em Ciências da Informação – Universidade Federal do Rio de Janeiro (1972-1995). 1996. Tese (Concurso para Professor Titular Métodos e Técnicas da Pesquisa) – Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 1996.
__________et al. Produção científica em ciência da informação: análise temática em artigos de revistas brasileiras. Perspectivas em ciências da informação. 2007, vol. 12, no. 1, pp. 38-49. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ci/v34n2/28551. Acesso em: 12 dez. 2012.
FERREIRA, Ana Gabriela Clipes. Bibliometria na avalização de periódicos científicos. Ciência da informação, v.11, n.3, junho. 2010. Disponível em: <http://www.dgz.org.br/jun10/Art_05.htm>. Acesso em 12 dez. 2012.
KING, Donald W.; TENOPIR, Carol. A publicação de revistas eletrônicas: economia da produção, distribuição e uso. Ciência da informação. Brasília, v. 2, n. 27, maio/ago. 1998. Disponível em: <http://revista.ibict.br/ciinf/index.php/ciinf/article/view/360/321>. Acesso em: 10 dez. 2012.
MARX, Karl. O trabalho alienado. In: OLIVEIRA, Paulo de Salles (Org.). Metodologia das ciências humanas. São Paulo: Hucitec: Unesp, 1998. p. 151- 163.
MOSTAFA Solange Puntel; MÁXIMO, Luis Fernando. A produção científica da Anped e da Intercom no GT da Educação e Comunicação. Ciência da Informação. Brasília, vol.32, no.1, jan/abr. 2003. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0100-19652003000100010>. Acesso em: 12 dez. 2012.
NOVAIS, Fernando A. & SOUZA, Laura de Mello e (Org.). História da Vida Privada no Brasil: Cotidiano e Vida Privada na América Portuguesa. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
SPINAK, E. Diccionario enciclopédico de bibliometría, cienciometría e informetría. Montevideo, 1996